Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico, cada brasileiro consome 46 quilos de plástico por ano. É uma montanha - e que demora até 450 anos para se decompor. Um mundo sem plástico seria, então, o Éden ambiental? Nem tanto. Sem ele, nossos alimentos teriam menos segurança - e os aparelhos eletrônicos pareceriam com as televisões dos nossos avós. Além disso, haveria mais gente vivendo no campo. Seria uma viagem no tempo. "O plástico é relativamente novo.
Seu uso em larga escala não tem nem um século", diz a pesquisadora Maria Lúcia Siqueira, do Laboratório de Embalagem e Acondicionamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Em 1950, a produção mundial era de 1,5 milhão de toneladas - uma mixaria se comparada aos atuais 265 milhões de toneladas por ano.
Sem o plástico, voltaríamos a usar mais vidro, papel e madeira. O que, por outro lado, poderia gerar novos problemas. Se hoje a taxa de devastação da Amazônia brasileira é de 18%, em um mundo sem plástico ela seria maior. Afinal, continuaríamos consumindo e poluindo. E a economia sofreria um baque. Só nos Estados Unidos, a indústria do plástico emprega quase 1 milhão de pessoas e movimenta US$ 341 bilhões por ano.
Com o uso alternativo de matérias de origem vegetal, haveria mais empregos nas zonas rurais para abastecer a demanda. Mas o trabalho seria puxado. O plástico trouxe muitas facilidades à agricultura. Por exemplo, sistemas de irrigação levam plástico nas mangueiras, dutos e canais. Sem ele ( e sem estufas, que também têm plástico), seriamos mais dependentes do clima. Assim, a variedade de comida no mercado diminuiria.
O bioplástico, feito à base de amido de milho, entre outros, seria uma alternativa sustentável. Mas ele custa até 4 vezes mais que o plástico, então encareceria muitos produtos. Além dele, teríamos mais vidro, em várias formas. Os computadores seriam de metal ou madeira, com dispositivos internos adaptados à nova realidade, feitos de silicone, por exemplo. De madeira também seriam os fones de ouvido. E todo mundo trabalharia como a americana Beth Terry, autora do livro Plastic - Free (sem versão no Brasil). Ela abandonou canetas de plástico, adotando lápis e caneta tinteiro. Canecas substituiriam copos descartáveis. E a falta da garrafa térmica impulsionaria o café fresquinho. Pelo menos isso.
Hoje, os carros são 50% feitos de plástico. Sem ele, os automóveis seriam parecidos com os da década de 1950, feitos quase inteiramente de aço. Eles pesariam o dobro, e gastariam até 35% a mais de combustível.
Em suma: uma vida totalmente sem plástico resolveria muitos problemas, mas também criaria vários outros. Se livrar completamente dele não parece uma solução viável, ou sensata. "O que está errado é o exagero no uso do plástico", diz Mônica Pilz, coordenadora do Instituto 5 Elementos, que divulga práticas sustentáveis.
Fonte: Super Interessante/ Editora Abril
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