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(462) TEXTO - UM CONTO DA AUTORA REGINA CHAMLIAN - A PREGUIÇA É CHAMADA ÀS PRESSAS

TEXTO - UM CONTO DA AUTORA REGINA CHAMLIAN - A PREGUIÇA É CHAMADA ÀS PRESSAS

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A preguiça estava no topo do juazeiro quando o papagaio chegou voando.
- Comadre - gritou esbaforido, - Trago recado de sua filha!

- Tenho dez filhos e doze filhas só do primeiro casamento -  lembrou a preguiça. - Quando o meu primeiro marido morreu , coitado, de um tombo da figueira - brava, casei-me com outro e vieram mais cinco filhos e sete filhas. E houve um terceiro também, depois que o segundo saiu a passeio e perdeu-se no bosque, com quem tive uma filha e um filho. No total, se não errei na soma, contei três maridos, dezessete filhos e vinte filhas. Qual de minhas filhas me manda recado?
- É aquela que tem pelos cor de terra molhada, comadre, uma que mora no oco da castanheira grande.
- Sei quem é. Minha filha do meio, a Florilda.
- Essa! Está tendo nenê e precisa de ajuda. Pediu para chamá-la com urgência urgentíssima.
- Estou indo neste momento para lá avisou a preguiça. - Obrigada por me chamar, papagaio.
E foi descendo vagarosamente pelo tronco.
"Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém" , pensou ela.
Não queria esborrachar-se lá embaixo feito coco maduro.
No dia seguinte, alcançou o chão.
"Onde fica mesmo a castanheira grande?" , se perguntou, olhando em volta. "Para a direita ou para a esquerda?" Precisava refletir antes de pô-se a caminho.
Três dias mais tarde, pegou a trilha do riacho.
Passada uma semana, encontrou uma fuinha, que a convidou para tomar café em sua casa.
- Não posso ficar muito tempo porque estou com uma pressa danada - explicou a preguiça. - Minha filha Florilda está tendo nenê  e mandou me chamar com urgência. Mas só um cafezinho eu aceito, sim senhora.
E entrou na toca da fuinha.

Esta botou na mesa um bule cheio de café e umas saborosas rosquinhas de ervas do campo, que ela mesma fez.
Três meses depois... a preguiça saiu da toca da fuinha.
Levava na bagagem, além das histórias engraçadas que a amiga contara, uma lata de rosquinhas de presente para a Florilda.
- Boa viagem - acenou-lhe a fuinha.
A preguiça seguiu o seu caminho.
Sempre em frente. Sem se distrair.
Estava com pressa, não queria se demorar.
Mas havia tanta coisa para ver!
Folhas de todos os tipos.
Flores de todas as cores.
Borboletas que imitavam fadas.
Pedras de formas estranhas.
Era impossível não dar pelo menos uma espiada naquele espetáculo.
Se não tivesse com tanta pressa , contemplaria tudo devagar.
De vez em quando, comia uma rosquinha.
Mas logo prosseguia porque a filha a esperava, não queria se demorar.
Durante a jornada, fez amizade com uma coruja que morava num pé de goiaba. As duas conversaram um bocado porque, como diz o ditado, "comer e conversar é só começar". (O ditado de verdade é "comer e coçar é só começar",
mas foi modificado, já que as duas recentes amigas conversaram à beça e comeram goiaba até sair pelo olhos, mas não coçaram sequer uma vez.)

Quando as goiabas acabaram e a conversa se esgotou, a preguiça se foi porque estava com pressa.
Continuou andando e conheceu uma paca.

Muito mais tarde, uma macaca.
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Tempos depois, um beija-flor.

Um coelho deu-lhe um copo de limonada e 

experimentou uma rosquinha.
Certo dia, caiu um chuvão. A preguiça botou a lata na cabeça para se proteger, mas não adiantou: ficou encharcada, espirrando sem parar, até febre teve.
Uma serpente que morava num covil perto de um jenipapeiro lhe receitou chás e ofereceu-lhe estadia, que ela aceitou.


Completamente restabelecida, retomou viagem.
Sem se distrair. Sempre em frente.
"Tenho pressa , senão eu não corria tanto assim".
Muitas manhãs depois de ter descido do juazeiro, uma borboleta pousou em sua cabeça e ela aproveitou para lhe perguntar:
- Você sabe se a castanheira grande está longe?
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Está bem perto! - alegrou-se a borboleta abrindo e fechando as asas como se batesse palmas.- Logo depois daquele abacateiro.
A preguiça emocionou-se: estava chegando.
Então deu uma topada numa pedra e, upa!,caiu no chão feito coco maduro.
Daí se levantou, abanou o pó de seus pelos e disse, pra lá de zangada:
- É nisso que dá tanta pressa!
Quando subiu na castanheira grande - sete anos depois que o papagaio a chamou!-, viu que Florilda não só já tivera o nenê, como também tornara-se avó, bisavó,trisavó,tataravó,tatataravó.
- Saí do meu juazeiro quase-avó e aqui cheguei tatatataravó - refletiu ela.
Distribuiu abraços, beijos, contou o que viu e ouviu em seu trajeto.
Deu para Florilda a lata vazia.
Rosquinhas, já não as tinha.
Mas isso não diminuiu a alegria do encontro.
Os seus tatatataranetinhos bateram lata o dia todo e não pararam mais de falar. E  conversa vai, conversa vem, um deles quis saber:
- E o juazeiro, como é,vó?
- É lindo - orgulhou-se ela. - Bem alto, com folhas sempre verdinhas e refrescantes, uma delícia.
Eles ficaram no maior assanhamento.
E, há uns três anos mais ou menos, combinam os detalhes de viagem.
Só não querem se demorar porque estão com certa pressa em partir.
Irão todos juntos.
Para o juazeiro, é claro.



BOA LEITURA!!!!

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