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(455) CRÔNICAS INFANTIS - A PROFESSORA DE DESENHO

A Professora de Desenho

Marcelo Coelho

Falando a verdade, escola é uma chatice. Pelo menos a 

minha era uma chatice. Essa história de aprender 

tabuada, fazer prova, lição de casa... eu não gostava.

 Ficava feliz quando aparecia uma gripe. Existe coisa 

melhor? Eu juntava todos os brinquedos em cima da 

cama. Traziam revistinhas. Chocolates. Televisão no 

quarto. Era ótimo.

Disse que a escola era muito chata, mas esqueci de uma

 coisa: as aulas de desenho. Essas eram legais.

Toda sexta-feira, depois do recreio, a dona Marisa 

(naquele tempo a gente não chamava a professora de 

"tia", nem usava só o nome dela, sem nada, assim: 

"Marisa"; tinha de ser "dona Marisa") - enfim, a dona 

Marisa saía da sala, e entrava a professora de desenho. 

A dona Andréia.

A dona Marisa era meio gorducha, usava coque no 

cabelo e se pintava feito louca. Batom. Sombra azul nos 

olhos. Meio perua. Eu não gostava da dona Marisa.

Mas aí entrava a professora de desenho. A dona Andréia

 era mocinha. Tinha cabelos castanhos. Lisos e 

compridos.

A aula de desenho era uma farra. A gente abria os 

cadernos, que não tinham linhas, só folhas de papel em 

branco, para a gente fazer o que quisesse. Podia. Dona

 Andréia deixava. 

Ela era linda.

Um dia, ela se atrasou. O tempo ia passando, e ela não 

chegava. Todo mundo estava louco para ter aula de 

desenho.

Por que será que ela estava atrasada?

Nessa idade, a gente sabe muito pouco da vida dos 

adultos. Talvez a dona Andréia tivesse brigado com o 

namorado. Pode ser que o diretor da escola tivesse dado

uma bronca nela. Vai ver que tinha alguém doente na 

família.

Mas a gente não queria saber de nada. Só queria ter 

aula de desenho.

Foi quando a dona Andréia apareceu. Todos nós 

ficamos contentes.

Não foi só contente. Foi uma espécie de alegria total, de

 gritaria, de explosão.

Ela entrou na classe.

Alguém gritou:

- É a Andréia! 



Não era o jeito certo de falar. Tinha de dizer "dona 

Andréia". Mas àquela altura ninguém estava ligando. 

Todo mundo começou a gritar:

- É a Andréia! É a Andréia!

O berreiro foi ganhando ritmo. Como se fosse torcida de

 futebol.

- AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA!

Parecia um jogador entrando em campo. Ou um cantor 

de rock.

- AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA!

Ela começou ficando alegre com a zoeira. Deu um 

sorriso. O sorriso dela era lindo.

- AN-DRÉ-IA!

Depois, ela ficou um pouco assustada. Não estava entendendo a bagunça.

- AN-DRÉ-IA!

Foi então que eu vi. Ela começou a chorar.

E saiu da sala.

Na hora, não entendi.

Fiquei pensando.

Quem sabe ela se assustou muito. Talvez não 

imaginasse que a gente gostava tanto dela.

E, às vezes, muito amor assusta as pessoas.

Pode ser que ela tivesse ficado brava. Tínhamos de  

dizer  " dona Andréia, e não dissemos.

 Era meio chocante só dizer "Andréia", como se ela   

   fosse irmã da gente, ou apresentadora de televisão, ou

 empregada. 

Ela também pode ter chorado por outro motivo 

qualquer. 

Estava triste com o namorado, ou com alguma doença 

da família, e toda aquela alegria da gente atrapalhando

 os sentimentos dela.

A Andréia nunca mais voltou.

As aulas de desenho acabaram. Comecei a perceber 

uma coisa.

É que às vezes, quando a gente gosta demais de uma 

pessoa, não dá certo. Dá uma bobeira na gente. A gente 

começa a gritar:

- Andréia! Andréia!

E a Andréia fica sem jeito. Não sabe o que fazer. Se

 assusta. Se enche.

Ouça este conselho.

Se você gosta muito de alguém, tome cuidado antes de 

fazer escândalo. Não fique gritando "Andréia! Andréia!"

 Finja que você só está achando a pessoa legal, nada 

mais. Se não a Andréia sai correndo.

Quando a gente gosta de alguém, tem de fazer como 

sorvete. Dá uma mordidinha. Mas não enfia o nariz e a

 boca na massa de morango. Senão, vão achar que a 

gente é idiota.

As pessoas da minha classe gostavam tanto da

 Andréia, que ela foi embora.

 Se a gente fosse mais esperto fingia que não gostava 

tanto.


BOA LEITURA AMIGUINHOS!!!!

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