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(452) CRÔNICAS INFANTIS - MINHA VIDA DE CÃO


CRÔNICAS INFANTIS   - MINHA VIDA DE CÃO
 (Ariane Bomgosto)

Pela frestinha da janela posso ver o sol entrar. Sinal que já é de

 manhã. Pior. Sinal que é hora de acordar. Não é que eu tenha 

preguiça. Afinal, preguiça de quê? Já sei que meu dia, como todos 

os outros trezentos e poucos dias que se passaram desde que vim ao

 mundo junto com os meus outros doze irmãozinhos, será mais um 

dia de sono, até que este mesmo sol, que vejo raiar agora, faça o 

favor de ir embora. Só nesta hora, enfim, poderei sair para passear, 

como também já é de costume.

Minha orelha esquerda levantou. Opa. Esta é a prova definitiva de 

que o relógio está marcando exatamente sete horas da manhã. 

Vamos lá. Um olho de cada vez. Primeiro o direito, lentamente. 

Deste ângulo, vejo dois pezinhos pequenos encostarem no chão.

 Dois seriam se eu não tivesse esquecido mais uma vez de abrir o 

olho esquerdo. Admito. A memória não é lá o meu forte. Pois bem, 

são quatro. Agora com certeza. Os dois de mamãe e os dois de 

papai. Demorei um pouco para me acostumar a chamá-los assim, 

afinal, mamãe e papai verdadeiros, não vejo desde que eu nasci.

 Eles ficaram na minha antiga casa, de onde fui tirado quando este 

casal, que agora vejo bem nitidamente, resolveu me adotar.


Eu gostava da “casinha de sapé” – nome que eu e meus doze 

irmãozinhos combinamos de chamar àquela casinha pequenina em 

que nascemos. Lá, tudo era pequenino e vivíamos todos 

amontoados, uns caindo por cima dos outros. Mas mamãe fazia 

com que tudo estivesse sempre aconchegante. Não estou 

reclamando da minha casa de agora. Aqui é bem maior e é pertinho

da praia, onde posso fazer aqueles buracos na areia e me esconder 

depois. Já não me lembro mais nem do nome, nem da carinha 

daqueles doze danadinhos que nasceram junto comigo. Desta vez, 

não vou por a culpa na minha memória. É uma daquelas coisas 

explicadas por essas circunstâncias da vida que não têm explicação.

Quando saí de lá, eu só tinha cinco dias de vida, então, dá um 

desconto.

Meu nome original - aquele que recebi quando nasci - é Joca, mas 

desde que cheguei aqui, percebi que os seres humanos demonstram 

carinho com nomes terminados em “inho”. Pois bem, passei a me 

chamar Binho. A única coisa de que não gosto muito é quando a 

mamãe – essa de carne e osso – fica apertando minhas orelhas. 

Fico logo bravo e mostro os dentes para ela. A outra mamãe – 

aquela de  pêlos como os meus – não fazia isso.


Mas o que ainda estou fazendo aqui debaixo da cama? Me perdi 

nos meus pensamentos e nem vi a hora passar. Vou lá na cozinha 

porque mamãe, como todos os dias pela manhã, já deve ter posto o 

meu leite naquela tigelinha. Exagerada como mamãe, eu nunca vi. 

Tirou uma foto minha e colou neste pratinho. Achei meio infantil.

 Na verdade, acho que meu pai e minha mãe não se deram conta 

que a idade biológica de uma pessoa não corresponde à idade 

biológica de um cãozinho como eu. Portanto, com um ano e pouco,

 já sou adulto.

Eles saíram, foram trabalhar. Ainda não entendi por que os 

humanos trabalham tanto. Acho que quero ser um deles na minha 

próxima encarnação. Ou melhor, não quero não. Esta vida de 

dormir, passear na praia e brincar com os meus donos é muito boa. 

Se pudesse ser outra coisa na minha próxima vida, seria um 

cãozinho de novo, só que com menos pêlos, porque estes insistem

 em cair no meu rosto, e, quando esbarram no meu focinho, me dão 

vontade de espirrar.



 Boa leitura amiguinhos!!!!

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